Mídia ajuda a alimentar crise no Brasil

Esta notícia da BBC, foi publicada no Portal Terra, na terça feira, dia 19 de Julho de 2005, exatamente dando coordenadas a tudo que temos mencionado sobre a Imprensa brasileira e a legislação frágil sobre os partidos, que facilita a corrupção, a ponto de obrigar governos, em todos os níveis, à barganha institucionalizada com seus legislativos equivalentes.

O diário britânico Financial Times analisa o papel da mídia brasileira na crise, e como a competição para trazer novos furos de reportagem põe em risco a cobertura dos escândalos. Segundo o artigo, a mídia impressa brasileira tem poucos leitores e compete furiosamente por eles neste escândalo, já que boas histórias rendem prestígio e mais anúncios.

O FT diz que os "críticos da mídia alertam que, ao não investigar apropriadamente as acusações, os repórteres acabam alimentando o desvario e simplesmente amplificando as alegações em vez de tentar investigar a seriedade das mesmas".

O artigo diz que, "depois de ter escapado da censura há mais de 20 anos, a mídia brasileira ainda tem que descobrir como reportar acusações de corrupção sem assumir que todos os acusados são necessariamente culpados". O jornal diz ainda que a situação é particularmente ruim porque o PT construiu uma imagem de ética na política.

Afastando da crise
O jornal argentino Clarín publica, nesta terça-feira, a entrevista dada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na França. Em uma de suas manchetes na editoria internacional, o Clarín destaca que Lula admitiu o uso de fundos não declarados em campanhas do PT, afirmando que isso é prática comum no Brasil.

Para o diário argentino, Lula tenta se distanciar das acusações de corrupção afirmando que, depois das denúncias, o PT tem a obrigação de explicar à sociedade brasileira "os erros que cometeu e o que fará para corrigi-los". O jornal também destaca a declaração de Lula de que, desde que foi eleito à presidência, não dirige mais a cúpula do partido.

Problema de todos
O díario britânico The Guardian, também destacou a entrevista de Lula dada na França e, em pequeno editorial, afirma que a corrupção é um problema de todos. O jornal analisa a discussão sobre boa governança como solução para acabar com a corrupção nos países africanos, pouco antes do encontro do G8 em Gleneagles, na Escócia, em que esta ajuda seria discutida.

O artigo afirma que é mais fácil combater do que erradicar a corrupção e, em seguida, cita o Brasil como exemplo de um país importante que hoje sofre com suspeitas corrupção. O diário The Guardian também cita outros casos de corrupção na Alemanha e nos Estados Unidos. Para o The Guardian, isso prova que escândalos são um fato - horroroso - em democracias estáveis.

Dos golpes à corrupção
E nos Estados Unidos, o mensalão é destaque em um editorial do Washington Post. O artigo começa afirmando que, em muitas maneiras, o presidente Lula é uma boa exceção na política brasileira e latino-americana.

O jornal comenta a origem humilde de Lula e afirma que ele combina estabilidade macro-econômica com políticas sociais progressivas mas que, mesmo assim, o governo dele está agora envolvido em um escândalo de corrupção.

O jornal afirma que o problema de Lula é parte de um problema maior da América Latina que, apesar de ter superado o período de golpes e ditaduras, ainda conta com instituições políticas fracas e corrupção endêmica.

Segundo o Washington Post, o atual escândalo brasileiro reflete isso. "Por causa da fraqueza dos partidos políticos brasileiros, Lula teve dificuldades para formar coalizões e implementar seu programa", diz o editorial.

O jornal afirma que, se o PT usou subornos como um atalho para alcançar as reformas, não teria sido a primeira vez. Segundo o Washington Post, a maior parte dos sistemas políticos na América Latina apresenta facções que permanecem unidas apenas por conta do dinheiro.