Batista Tradicional, sim, Senhor!

Faço minhas, as palavras e argumentos que se seguem, com a devida assinatura ao final.
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Estava eu no meu caminho quando um pastor batista, fazendo uma meditação devocional no Velho Testamento, saiu-se com esta: “O que os batistas tradicionais têm de entender é que os tempos são outros.” Confesso que aquela frase me incomodou. Não só porque tal declaração não se encaixava no texto bíblico, em questão, mas também pela altivez e o sarcasmo com que foi mencionada. Estou acostumado a este tipo de argumentação, não vindo dos nossos, mas de alguns grupos pentecostais e carismáticos que, julgando-se donos de toda a verdade cristã, nos tratam como sub-cristãos. Mas, agora, aquela empáfia vinha do nosso arraial, e o colega em causa referia-se a nós como espécies de igrejas que jogam na segunda divisão do cristianismo.

No meio batista, hoje, o termo tradicional assumiu um sentido pejorativo. Para alguns, o tradicional é o saudosista: aquele que defende, zelosamente, as formas de culto, os métodos de trabalho e os pormenores de organização eclesiástica de cinqüenta anos atrás.

Hoje, as igrejas evangélicas no Brasil se parecem com McDonald. É que quem conhece essa cadeia de fast-food sabe que ao pedir um Big-Mac, em qualquer parte do mundo, receberá o mesmo sanduíche. É tudo igualzinho, não muda nada. Com o perdão do neologismo, estamos vendo a “Mcdonaldização” das igrejas evangélicas no Brasil. Todas cantam e imitam a Ana Paula Valadão. Todas cantam os mesmos corinhos em altos decibéis, com aqueles mesmos sermõezinhos inócuos, todas usam os velhos e vazios chavões, sempre as mesmas repetições. Quem foge disso é visto como mumificado e ultrapassado. Numa palavra: tradicional.

Esta gente se esquece que os “tradicionais” firmaram o evangelho no mundo. Foram os grupos históricos, tradicionais, que chegaram aqui, no final do século XIX, para evangelizar o Brasil. Entre os batistas, foi gente da cepa de Wiliam Bagby, Salomão Ginsburg, Francisco Soren e outros que deixaram a base da nossa fé. Tivemos mártires. Tivemos templos incendiados, Bíblias queimadas e pastores perseguidos. Abrimos seminários, inclusive os que formaram os líderes desta gente que hoje tanto nos critica. Fizemos traduções da Bíblia. Criamos universidades, faculdades, colégios e hospitais. Construímos uma identidade evangélica com suor e com sangue.

Além disso, deixamos um legado ético, lamentavelmente, tão esquecido hoje no arraial evangélico. Ainda somos vistos como gente séria, de palavra digna de ser respeitada, porque assumimos um compromisso com Deus e com os valores do evangelho.

Ser batista tradicional é não ser exótico e querer honrar a Jesus, então sou tradicional. Se ser batista tradicional é querer ter o caráter de Cristo em sua vida, então sou tradicional. Se ser batista tradicional é privilegiar conteúdo bíblico ao invés de gritos e barulhos em cultos públicos; então sou tradicional. Se é cultivar reverência e temor a Deus em tudo o que faz, até mesmo no culto comunitário, então sou tradicional. Se ser batista tradicional é entender que o culto que Deus aceita é prestado com a nossa vida, 24horas por dia; e não naquele período que se passa dentro de um salão de cultos, aos domingos; então sou tradicional.

Respeito grupos evangélicos que têm práticas e crenças diferentes das minhas. Que Deus os abençoe. Só queria entender que tipo de experiência profunda com Deus tem um homem que, ao invés de torná-lo cheio do Fruto do Espírito (Gálatas 5.22,23), faz dele uma pessoa besta e cheia de empáfia.

(Transcrito) Renato Cordeiro de Souza. www.ibrp.org.br