Meu Encontro Ministerial com Deus


No início da minha vida ministerial, duas situações quase concomitantes: um bode do meu rebanho vomitando iras e reclames; e a minha percepção quanto a desigualdade contra mim, no alimentar minhas ovelhas, quando semanalmente eu as tinha por umas cinco horas para o estudo da Bíblia, e o muito mais que isto da atenção delas diante dos mais variados programas de tv e rádio, produzidos em nome de Jesus, pelos mais variados hereges e lobos possíveis. Naquela ocasião, tive momentos terríveis, broncas amargas, confrontos titânicos com o meu Deus. Sentia-me um Jeremias também enganado, seduzido, que no começo da vida, na infância foi "enchido" de incentivos e promessas, mas, no futuro, aquele que eu vivia, sentia-me decepcionado, ludibriado, que mesmo com o "fogo" no peito dele, só via um futuro, o largar tudo, e partir para outro ministério menos doloroso e ambíguo.


A resposta que entendi do Senhor, me alcançou com duas soluções as quais jamais esqueci, sempre reeditei para mim mesmo e para outros colegas também precisos nos momentos que me acorreram; esta resposta divina marcou determinantemente meu ministério, a minha prática ministerial, o alvo do meu olhar nas pedaladas bicicletais que passei a dar. Sou o que sou, cheguei onde cheguei, por causa daquele formidável momento de terror ministerial. Depois desta resposta do Senhor, não permito mais que os lixos bodiais me atinjam, não deixo que a heresia me tire sonos, por receios entre minhas ovelhas.


Primeiro de tudo, o Senhor me reformou alguns parâmetros que eu já sabia, mas na prática me fazia desconhecedor: "A Igreja é Minha", não é sua, não tem do que se preocupar. As ovelhas são Minhas, você apenas é um servo que preparei para dirigí-las. Eu as convenço, as converto, as salvo, não você. Eu é que dou o crescimento espiritual a elas, eu é que as transformo em ovelhas de verdade, não o seu sermão, ou sua oração, ou sua companhia, ou o seu jeito de ser Pastor. Muitas vezes Eu as protejo até de você mesmo, de suas limitações, de suas imaturidades, suas fraquezas, suas teimosias. Elas são minhas, Eu sou inteiramente responsável por elas, pelo que são, o que fazem, como são e como fazem.


Esta Palavra que entendi de Deus, me norteou as respostas que eu precisava ouvir naquele momento crítico de meu ministério. Foi como uma luz intensa que me mostrou caminhos que eu não percebia e estavam bem diante de mim. Esta Palavra me abriu a memória, e claramente pude ver e entender meu passado e meu presente. Tolices que tanto teimei e que só pela misericórdia de Deus, não foram prejuízos, como deveriam ser, ao rebanho do Senhor sob minha liderança. Realmente, a igreja de Cristo, aquela que eu pastoreava, em especial, não era minha, não era da minha alçada, da minha responsabilidade, eu não precisava morrer por ela, não precisava me preocupar com ela, não precisava me angustiar com os temores que me assaltavam referentes a ela. Ela pertencia inteiramente ao Senhor, eu era apenas um nada insignificante que a misericórdia de Deus chamou para ser um simples Pastor.


Assim entendi uma primeira resposta... Nem todos que estavam membresando meu rebanho, aquele que me tinha como Pastor, eram ovelhas. O Senhor foi muito incisivo nesta resposta: "No rebanho que lhe entreguei, há muitas ovelhas e alguns bodes; deixe de chorar pelo que estes são capazes de fazer, e passe a se confortar, se alegrar, com o que aqueles são naturais em fazer". Muitas vezes perdemos tempo lamentando o barulho e a rebeldia do joio, e com isto passamos a ferir o trigo, com nossas reações, nossas pregações, nossos choros, nossas covardias, nossas auto-piedades, quando na verdade o número destes besouros é pequeno, mesmo quando fazem muito zoar e fedor. As ovelhas verdadeiras são pacíficas, até quando estamos agindo contra elas, são bálsmos e confortadoras, de um jeito ou outro, para nos dar alento, para se posicionar ao nosso lado, até quando são tímidas e ficam distantes. O Senhor me mandou parar de ficar perdendo tempo em paparicar bode, o que só faz adiar a sua pimenta malaguetal, Ele me fez ver que podemos até dengar ovelhas, mas elas não precisam disto, necessariamente, para serem ovelhas. Neste sentido, ele me falou muito mais coisas, e nos momentos mais apropriados de meu ministério, tenho lembrando de uma ou outra, o que me têm feito ver a verdade do que me disse. Hoje meu tempo é para falar sobre ovelhas, para elogiar ovelhas, sonhar com ovelhas, orar por ovelhas, interceder por elas... Só oro ou dou algum tempo para bodes, quando já fiz isto para as verdadeiras ovelhas que o Senhor me tem dado.


Assim, entendi, também, uma segunda resposta... Deus se fez entender a mim: "Não é seu sermão, ou sua astúcia, ou sua vigilância, ou o tempo que você dá com elas, que faz com que estejam atentas a perceber o que é bíblico ou o que é herético... Sou que faço isto, que dou o discernimento, que tiro da garra do inimigo, que a livro do engano". Em tempos passados já me senti culpado por ver membro do meu rebanho indo para o ensino anti-bíblico, claramente contrário à sã-doutrina. Já me angustiei por ver gente do meu rebanho voltando para as atrações do mundo. Foram preocupações como estas que me fizeram, como hoje, um apologista, um estudioso pormenorizado em relação às várias doutrinas inimigas e amigas que estão por toda parte. Foi tão séria esta resposta de Deus para mim e meu ministério, que grande parte dos sermões que tinha preparado, ou temas que entendia serem essenciais nas pregações, visando a boa alimentação de todos, cheguei a rasgar, bastava falar sobre a Graça de Deus na vida dos salvos, isto deixaria muito claro à igreja, a maneira poderosa do Espírito Santo nos fazer parecidos com Jesus. Neste sentido é que hoje chego ao cúmulo de ver ex-"ovelhas", hoje, sendo membros atuantes de quase 90% das igrejas da cidade, bebendo os mais diferentes cardápios heréticos possíveis, e ainda assim, louvar a Deus por ter me tirado o "privilégio" de continuar sendo o Pastor de cada uma delas; encontro com cada uma, faço festa, mas nunca precisei saber o motivo que tiveram para hoje estarem enfusadas no que estão, crêem ou fazem. Uma coisa é certa, não eram minhas ovelhas, as que Deus me entregou para serem, apesar do Pastor que sou. Outras coisas mais, Ele me ensinou sobre este aspecto da minha crise naquele momento inicial do meu ministério, e há sempre uma ou outra circunstância que me leva a lembrar detalhes destes vários ensinos ali aprendidos.


O meu Encontro Ministerial com Deus, em algum ano inicial da minha vida de Pastor, me enriqueceu para todos os demais anos à frente. Colho sempre, e até hoje, frutos doces e gratificantes de tudo aquilo que Ele me ensinou através daquela minha crise particular.


Pr.Jônatas David - Abril de 2011