"Vivo das delícias que o amor me proporciona. Enquanto os meus afins, irmãos, seres como eu se debatem na triste estrada do desprazer, em busca da frieza insana, na incessante e intrépida luta pela sobrevivência, eu busco sobreviver no amor. Ah o amor! Este grandioso espetáculo que grassa a terra, fazendo seus seres serem melhores. E aí as vidas se encontram, se calam diante da beleza do encontro. Porque foram almas silenciosas que de repente se deram as mãos. E na beira do abismo se juraram eternamente, como num pacto sangrento e torturas incessantes dos que não podem se entregar. E não se entregam por quê? As respostas se calam no leito gélido dos vagões espúrios dos espíritos insolentes, devassos, hipócritas de uma sociedade que julga, condena e executa sem sequer lhe dar um dedo de prosa. Não entendem a beleza do verso; não se importam com a saudade; com a lágrima que teimosa traça um caminho entre a dor e a saudade. E as almas pagam seus pecados na negra solidão das noites cinzentas e frias, dos sepulcros torturantes das lembranças inquietas e insones. São tributos que não se discutem. Pagam-se! E as almas querem ser águias que voam irmanadas, aladas, em grupo ou solitárias, num vôo perene, perigoso, quase mortal. Porque uma alma mal compreendida, negada é um perigo de morte. O sofrimento jaz no canto triste da alegria passageira que não pode se consumar porque o OSSO da vida lhe apunhala com sua lâmina afiada que penetra o mais profundo do coração e extermina com as tuas chances de felicidade. É assim nas nossas vidas. Vidas das impossibilidades afetivas que são jogadas na frieza do esquecimento porque a carne não sobrevive sem os ossos."