Olá, tudo bem? Caso tenha um tempinho, me ajuda com uma coisa depois?
SabRe o milagre de Jesus no casamento em Caná? Estava lendo essa passagem ontem e me lembrei que sempre fico muito confusa com essa atitude de Jesus. Primeiro ele diz "que tenho contigo mulher? ainda não é chegada a minha hora". Em seguida, Maria parece "fingir que não ouviu". Depois ele realiza o milagre.
Que aconteceu? Jesus "mudou de ideia"?
Agradecida! Beijo!
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RESPOSTA
Minha santa irmã... bom dia. prazer grande estar contigo para falar sobre coisas da Bíblia. Não é só este momento que Jesus fala uma coisa e depois faz outra... veja a resposta dele aos irmãos dele em Jo.7:3-10. Tanto o casamento em Caná, quanto este episódio, os dois relatados por João tem algumas coisas a serem consideradas...
8 de Agosto de 2013
Pr.Jônatas David
O CONTEXTO DO MILAGRE EM CANÁ
O milagre em Caná é relatado no Evangelho de João 2:1-11. Durante um casamento, Maria informa a Jesus que o vinho acabou. Jesus responde: “Que tenho eu contigo, mulher? Ainda não é chegada a minha hora” (João 2:4). Apesar dessa resposta, Maria instrui os servos a fazerem o que Jesus disser, e Ele transforma a água em vinho.
A RESPOSTA DE JESUS A MARIA
A resposta de Jesus pode parecer dura, mas é importante entender o contexto cultural e linguístico. A expressão “mulher” não era desrespeitosa na época, mas sim uma forma comum de tratamento. A frase “ainda não é chegada a minha hora” indica que Jesus estava consciente do tempo divino para suas ações e milagres.
A MUDANÇA DE ATITUDE DE JESUS
Aparentemente, Jesus muda de ideia ao realizar o milagre. Isso pode ser interpretado de várias maneiras. Alguns estudiosos sugerem que a intervenção de Maria e a necessidade do momento influenciaram Jesus. Outros acreditam que Jesus sempre planejou realizar o milagre, mas queria destacar a importância do tempo divino.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A NARRATIVA DE JOÃO
- Datação do Evangelho: O Evangelho de João foi escrito cerca de 60 anos após a morte de Jesus. Isso pode influenciar a precisão dos detalhes.
- Testemunho de João: João pode não ter sido uma testemunha ocular direta desses eventos, dependendo de relatos de outros.
- Tonalidade das Respostas de Jesus: As respostas atribuídas a Jesus podem parecer duras, mas devem ser entendidas no contexto cultural e linguístico da época.
- Limitações do Escritor: As limitações humanas do escritor podem influenciar a forma como os eventos são relatados.
CITAÇÕES BÍBLICAS E BIBLIOGRÁFICAS
- João 2:1-11: Relato do milagre em Caná.
- João 7:3-10: Jesus responde aos seus irmãos.
- Carson, D. A. (1991). The Gospel According to John. Eerdmans.
- Brown, Raymond E. (1970). The Gospel According to John (I-XII). Yale University Press.
BIBLIOGRAFIA SOBRE O ASSUNTO
- The Gospel According to John - D. A. Carson (1991)
- The Gospel According to John (I-XII) - Raymond E. Brown (1970)
- Jesus and the Eyewitnesses - Richard Bauckham (2006)
- The Historical Jesus: The Life of a Mediterranean Jewish Peasant - John Dominic Crossan (1991)
- Jesus: Apocalyptic Prophet of the New Millennium - Bart D. Ehrman (1999)
- The Jesus Legend - Paul Rhodes Eddy & Gregory A. Boyd (2007)
- The New Testament: A Historical Introduction to the Early Christian Writings - Bart D. Ehrman (2000)
- The Birth of the Messiah - Raymond E. Brown (1993)
- The Resurrection of the Son of God - N. T. Wright (2003)
- Jesus and the Victory of God - N. T. Wright (1996)
INTRODUÇÃO: O CONTEXTO DO MILAGRE EM CANÁ
O milagre de Jesus no casamento em Caná, onde Ele transformou água em vinho (João 2:1-11), é carregado de simbolismos e apresenta uma interação intrigante entre Jesus e sua mãe, Maria. A frase inicial de Jesus – “Que tenho contigo, mulher? Ainda não é chegada a minha hora” (João 2:4) – tem sido alvo de várias interpretações teológicas ao longo dos séculos. O questionamento proposto, sobre a atitude de Maria e a mudança de Jesus, toca em um ponto importante sobre a humanidade e divindade de Cristo, bem como sobre a natureza da inspiração dos textos bíblicos.
AS PALAVRAS DE JESUS E O SENTIDO DO “AINDA NÃO É CHEGADA A MINHA HORA”
Quando Jesus afirma “Ainda não é chegada a minha hora”, muitos teólogos acreditam que Ele está se referindo ao momento em que Sua missão será plenamente revelada – a Sua morte, ressurreição e glorificação (cf. João 7:30; 12:23; 13:1). Portanto, a frase reflete o senso de tempo divino, no qual Jesus opera de acordo com a vontade do Pai (cf. João 5:19). O uso do termo "mulher" aqui não deve ser entendido como desrespeitoso, mas como um tratamento formal e respeitoso na cultura daquela época. Isso está em sintonia com o modo como Jesus se refere à sua mãe mesmo na cruz, em João 19:26.
MARIA COMO INTERCESSORA: “FAZEI TUDO O QUE ELE VOS DISSER”
Apesar da aparente resistência inicial de Jesus, Maria continua a confiar na capacidade do Filho e orienta os servos: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (João 2:5). Isso pode ser interpretado como uma demonstração da fé inabalável de Maria na intervenção divina de Jesus. Alguns estudiosos veem isso como um sinal da relação especial entre Jesus e sua mãe, onde a intercessão de Maria é acolhida, não porque ela forçou Jesus, mas porque ela estava em sintonia com o plano divino.
A HUMANIDADE E A DIVINDADE DE JESUS: JESUS "MUDOU DE IDEIA"?
A ideia de que Jesus mudou de ideia ao realizar o milagre pode ser compreendida à luz de sua humanidade. Como verdadeiro Deus e verdadeiro homem (cf. Filipenses 2:6-8), Jesus experimentou emoções, decisões e interações humanas, o que poderia envolver responder a situações de forma dinâmica. No entanto, é mais provável que, em sua sabedoria divina, Jesus já soubesse que realizaria o milagre, e Suas palavras a Maria foram um lembrete de que Seus atos estavam sempre alinhados com o momento perfeito do Pai.
A QUESTÃO DO TEMPO E DA AUTORIA DOS EVANGELHOS
A resposta apresentada na pergunta também traz à tona a questão da autoria e do tempo dos evangelhos. O Evangelho de João foi escrito décadas após os eventos relatados, e muitos acreditam que João, o discípulo amado, escrevia a partir de reflexões teológicas e memórias transmitidas pela tradição oral. Embora isso não invalide a inspiração divina das Escrituras (cf. 2 Timóteo 3:16), o estilo e a ênfase de João diferem dos evangelhos sinóticos, e suas narrativas podem refletir mais um foco simbólico e teológico do que uma cronologia exata dos eventos.
A INTERPRETAÇÃO TEOLÓGICA DAS RESPOSTAS DE JESUS
As respostas de Jesus, tanto em Caná quanto no relato de João 7:3-10, podem parecer duras à primeira vista, mas devem ser entendidas no contexto da Sua missão maior. Jesus sabia que cada ação e cada palavra Sua tinham um propósito divino, e Sua resposta direta pode ser vista como uma maneira de enfatizar a importância de Sua missão. No entanto, isso não implica falta de amor ou respeito por sua mãe ou seus irmãos; pelo contrário, é uma expressão do Seu compromisso com o tempo divino.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A passagem do casamento em Caná não revela inconsistência no caráter de Jesus, mas sim uma complexidade que reflete tanto Sua plena humanidade quanto Sua plena divindade. As palavras duras atribuídas a Ele podem ser, em parte, fruto de limitações linguísticas e culturais nas traduções e interpretações dos evangelhos, mas, acima de tudo, elas revelam um Cristo comprometido com a missão que o Pai Lhe confiou, e a confiança de Maria no Filho reflete sua compreensão dessa missão.
BIBLIOGRAFIA SOBRE O ASSUNTO
- Morris, Leon. The Gospel According to John. Eerdmans, 1971.
- Brown, Raymond E. The Gospel According to John I-XII. Yale University Press, 1966.
- Barclay, William. The Gospel of John, Volume 1. Westminster John Knox Press, 1975.
- Carson, D.A. The Gospel According to John. Eerdmans, 1991.
- Moloney, Francis J. The Gospel of John: Text and Context. Brill, 2005.
- Köstenberger, Andreas J. John. Baker Academic, 2004.
- Witherington III, Ben. John's Wisdom: A Commentary on the Fourth Gospel. Westminster John Knox Press, 1995.
- Keener, Craig S. The Gospel of John: A Commentary. Baker Academic, 2010.
- Beasley-Murray, George R. John. Word Books, 1999.
- Ridderbos, Herman. The Gospel of John: A Theological Commentary. Eerdmans, 1997.