Fim do PT seria ruim para o Brasil

Todo um esquema político para se perpetuar um status de masela na política nacional, pregando falsos sob a história de luta de um ou outro partido que não campea em favorecimentos aos interesses de poderosos que se sentem acima de tudo e todos em seus objetivos.
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diz Kennedy Alencar Quarta-feira, 17 de Agosto, 2005



O senador Cristóvam Buarque (DF) diria, em 15 de agosto, se deixaria ou não o PT. O paulista Aloizio Mercadante, líder do governo no Senado, pensou em sair do partido quando ficou com a cabeça quente ao saber do forte depoimento de Duda Mendonça à CPI dos Correios. Um grupo de 22 deputados federais e quatro senadores da legenda se declarou independente do PT em sua atuação parlamentar. Muitos choram de tristeza, raiva e decepção ao tomar conhecimento a cada dia de uma revelação que mostra que a antiga direção do PT cedeu a um esquema de financiamento político indecente e criminoso.

Todos esses petistas têm o direito de deixar a legenda e administrar as suas carreiras políticas como bem entenderem, mas cometerão um erro se o fizerem no calor da crise. De imediato, deveriam sair do PT aqueles que traíram o partido, não os que se sentem traídos por "práticas inaceitáveis", como disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em pronunciamento na sexta-feira (12/08).

O PT ainda tem muita lenha para queimar. Os erros da antiga direção do partido não podem significar uma sentença de morte de todos os seus membros. O que os prefeitos Marcelo Déda (Aracaju) e Fernando Pimentel (BH) têm a ver com isso? Qual a participação da maioria dos parlamentares da sigla nessa lambança? Que culpa têm militantes que dedicaram 25 anos de suas vidas a construir um partido inovador na esquerda brasileira?

Um partido político é uma construção humana. Sujeito a erros, portanto. Um lado bom de tanta coisa ruim poderá ser o fim de certa arrogância petista, daquele sentimento de que políticos bons só existiam no PT. O fim do maniqueísmo na política será bom para o país. Dito isso, convém registrar que, ao lado do PSDB, o PT ainda tem os melhores quadros políticos do Brasil. Aqueles que pensam em sair da sigla deveriam refletir sobre algumas questões. Sair da legenda para ingressar em quais partidos? As alternativas são melhores? Há espaço para a criação de um novo partido de esquerda ou centro-esquerda?

Cristóvam avalia ingressar no PPS ou no PDT. Para entrar no PDT, sua condição é que Anthony Garotinho, atualmente peemedebista, não volte a ser pedetista. Com todo o respeito, o PPS e o PDT são feudos partidários a serviço de caciques políticos. Ciro Gomes, por exemplo, deixou o PSDB pelo PPS para viabilizar um projeto presidencial mais pessoal do que partidário.

O PSB, que perdeu Miguel Arraes neste final de semana, é outra legenda dominada por interesses personalistas. O nanico e atrasado PC do B é uma alternativa? O recém-criado e messiânico P-Sol de Heloisa Helena, que defende a estapafúrdia tese de antecipar as eleições de 2006, é uma opção consistente ao PT? O radical PSTU tem um projeto realista de poder?

É uma saída o PFL de ACM, aquele político que renunciou ao mandato para não ser cassado quando foi descoberto que violara o segredo do painel de votação do Senado que presidia? O PSDB, partido com rivalidades mais de ordem pessoal do que ideológica com o PT, receberá Cristóvam num Distrito Federal onde está aliado a Joaquim Roriz (PMDB)?

O PTB, o PL e o PP, legendas alugadas e escravizadas pelo mensalão, são orgulhos da democracia brasileira? O PMDB, agremiação fracionada de caciques regionais, seria um bom destino para Mercadante, que se dá muito bem com uma ala do partido? A crise do PT é gravíssima. É uma ilusão minimizá-la, tentando, por exemplo, preservar Delúbio Soares e José Dirceu. O Partido dos Trabalhadores nunca mais será o mesmo depois de conhecer Marcos Valério.

O PT, no entanto, ainda tem um papel importante a cumprir na política brasileira. Sua ligação com movimentos organizados da sociedade, uma espécie de amortecedor social, não pode ser substituída da noite para o dia. Sua pregação pela ética na política civilizou o país --aliás, teve tanto êxito que hoje devora parte do partido. É verdade que, em política, não há vácuo. Fernando Collor de Mello, apoiado por alguns de nossos principais veículos de comunicação, foi uma prova disso ao final do governo José Sarney. A destruição do PT não interessa à democracia brasileira.

Kennedy Alencar é colunista da Folha Online.