Calvino perseguiu os contrários à sua fé

  



JOÃO CALVINO: LÍDER DA REFORMA PROTESTANTE NA FRANÇA E SUÍÇA

João Calvino (1509-1564) foi um teólogo, pastor e reformador francês, conhecido como uma das figuras mais influentes da Reforma Protestante. Ele desenvolveu sua teologia principalmente em Genebra, onde liderou uma comunidade reformada. Calvino baseou sua obra central, Institutas da Religião Cristã, em uma abordagem teológica rigorosa que defendia a soberania absoluta de Deus, a predestinação e a autoridade das Escrituras. Diferente de Lutero e Zwinglio, Calvino estruturou um sistema reformado altamente organizado, influenciando profundamente o desenvolvimento do protestantismo, especialmente nas tradições reformada e presbiteriana.


CALVINO E A PERSEGUIÇÃO AOS DISSIDENTES

Embora promovesse a Reforma como uma alternativa ao autoritarismo católico, Calvino também se envolveu em perseguições a aqueles que divergiam de sua doutrina. Seu papel na execução de Miguel Serveto, em 1553, é um dos episódios mais emblemáticos. Serveto, um teólogo espanhol que questionava a doutrina da Trindade, foi condenado à morte na fogueira por heresia em Genebra, onde Calvino exercia forte influência. Essa perseguição foi justificada por Calvino como uma defesa da pureza doutrinária e da unidade da fé cristã, refletindo sua convicção de que o governo civil deveria apoiar e proteger a verdadeira religião.


A JUSTIFICAÇÃO TEOLÓGICA DE CALVINO PARA A REPRESSÃO

Calvino acreditava que a igreja reformada tinha o dever de manter a ordem e a disciplina, tanto na fé quanto na vida moral. Ele defendia que o governo civil deveria ser um aliado na erradicação da heresia, como parte de sua responsabilidade para com Deus. Em seu pensamento, tolerar dissidentes religiosos era permitir a desordem e a decadência moral, o que poderia corromper a sociedade. Assim, a perseguição a hereges e dissidentes, como os seguidores de Serveto e outros grupos considerados desviantes, foi vista por Calvino como uma medida necessária para preservar a verdade da fé cristã e o bem-estar da comunidade reformada.


Referências Bibliográficas

González, Justo L. História do Cristianismo: Volume 2 – A Era dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 2014.
McGrath, Alister E. A Vida de João Calvino. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003.
Parker, T. H. L. John Calvin: A Biography. Oxford: Lion Hudson, 2006.

Inquisição protestante

Na Inquisição, assim como os católicos, os protestantes também perseguiram os fiéis - com direito torturas, execuções e espionagem da 'polícia da fé'

Angelo Adriano Faria de Assis
  • A Inquisição não foi o único caso de intolerância movida em nome de Deus na Época Moderna. Embora não houvesse a institucionalização de tribunais similares aos do Santo Ofício, também foram usadas estratégias de controle da fé nos locais em que o protestantismo era dominante, levando à perseguição por crimes como adultério, discordância dos dogmas protestantes e bruxaria.
    Na Alemanha, o líder protestante Martinho Lutero (1483-1546) exigiu perseguições aos anabatistas, grupo cristão mais radical da Reforma, porque, entre outras questões, eles não aceitavam as regras da Igreja Evangélica e divergiam sobre o batismo. A decisão causou a expulsão, o encarceramento, a tortura e a execução de milhares de pessoas. Lutero também divulgou textos com críticas aos judeus – embora sem maiores repercussões na época, estes escritos acabariam utilizados pela Alemanha nazista, em pleno século XX.

    Polícia da fé
    O teólogo e reformador João Calvino, o 'papa de Genebra', promoveu até espionagens e visitas às residências para vigiar a fé dos fieis. Imagem: Wikimedia Commons
    O teólogo e reformador João Calvino, o 'papa de Genebra', promoveu até espionagens e visitas às residências para vigiar a fé dos fieis. Imagem: Wikimedia Commons
    Em Genebra, um dos berços da Reforma Protestante e onde ela se mostrou bastante radical, funcionou uma verdadeira “polícia da fé”. João Calvino (1509-1564), devido à sua autoridade sobre os protestantes suíços, era conhecido como o “papa de Genebra”. Ao organizar a Igreja Presbiteriana, instaurou comissões compostas de religiosos e leigos: a Venerável Companhia, responsável pelo magistério, e o Consistério, que zelava pela disciplina religiosa. Para isso, promovia confissões, denúncias, espionagens e visitas às residências, levando muitos à prisão, à tortura, ao julgamento e, em alguns casos, à morte.
    A população era proibida de cultivar certos hábitos, como jogar, dançar e representar. Alguns pensadores foram perseguidos, como o médico e humanista espanhol Miguel Servet Griza. Ele foi preso, condenado e queimado em efígie – representado por um boneco. Fugiu em direção à Itália, mas acabou preso em Genebra, onde foi processado pelo Conselho presidido por Calvino e queimado por causa de proposições vistas como antibíblicas e heréticas, entre outras culpas.
    Na Inglaterra, uma verdadeira caça às bruxas levou à morte centenas de mulheres acusadas de feitiçaria. A experiência persecutória inglesa foi ainda “exportada” para as colônias na América do Norte, como no famoso episódio das “bruxas de Salem”, ocorrido em Massachusetts, em fins do século XVII, em que várias adolescentes foram mortas, acusadas de promover reuniões em torno de uma fogueira nas quais, supostamente, invocavam espíritos.
    Sem dúvida, não são poucos os exemplos de intolerância religiosa nos variados espaços que vivenciaram a Reforma Protestante, mas nada que representasse o equivalente dos estruturados tribunais inquisitoriais católicos.


    Angelo Adriano Faria de Assis é professor da Universidade Federal de Viçosa e co-organizador de Religiões e religiosidades: entre a tradição e a modernidade. (Edições Paulinas, 2010).

    Saiba Mais:
    DELUMEAU, Jean. Nascimento e afirmação da Reforma. São Paulo: Pioneira, 1989.
    LEVACK, Brian P. A caça às bruxas na Europa Moderna, 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1988.
    SANTOS, João Henrique dos. “Daconciliaçãopossível àrupturaUmaanálisedosdocumentosde1520deMartinhoLutero”. Tese de doutorado, UFJF, 2009.

    Filmes:
    “As Bruxas de Salem”, de Nicholas Hytner, 1996.
    “Lutero”, de Eric Till, 2003.


http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos-revista/inquisicao-protestante