Os Batistas na Política da Perseguição

 

O ÓDIO POLÍTICO NAS IGREJAS BATISTAS DO PARANÁ

O texto abaixo, logo em seguida a este, revela um fenômeno preocupante nas igrejas batistas do Paraná, onde o discurso religioso tem sido mesclado com retórica política de ódio, muitas vezes direcionada contra partidos e figuras públicas, como o PT e Lula. Esse ódio, disfarçado de moralismo, tem encontrado palco em sermões e eventos organizados por pastores que influenciam seus fiéis a adotarem posturas radicais contra o que consideram "inimigos da fé". A perseguição ideológica e o antipetismo se tornaram centrais em muitos cultos, com líderes religiosos como Paschoal Piragine incitando seus fiéis a rejeitarem políticos que, em sua visão, desrespeitam os princípios cristãos.


A DISTORÇÃO DA MENSAGEM DE JESUS: AMOR E MISERICÓRDIA

No entanto, essa pregação de ódio vai contra os ensinamentos de Jesus Cristo, que enfatiza o amor e a misericórdia, mesmo para com os inimigos. Jesus instrui seus seguidores a amar o próximo como a si mesmos (Mateus 22:39) e a perdoar os que os perseguem (Mateus 5:44). A retórica de exclusão e rejeição política praticada em muitas igrejas batistas no Paraná parece ignorar essas orientações, substituindo a compaixão cristã por uma agenda política que promove a divisão e a inimizade, em vez de promover a reconciliação e o entendimento mútuo.


RESPEITO ÀS AUTORIDADES: UMA ORDEM BÍBLICA

A Bíblia também ensina a importância de respeitar e obedecer às autoridades, independentemente de concordarmos ou não com elas. Romanos 13:1-2 afirma que “não há autoridade que não venha de Deus; as que existem foram instituídas por ele”. No entanto, nas igrejas batistas mencionadas, líderes incitam seus fiéis a desobedecer e desrespeitar autoridades políticas com as quais não concordam, como se fosse uma obrigação cristã opor-se a qualquer governo que não siga uma visão religiosa específica. Isso contraria a clara instrução bíblica de honrar as autoridades como parte do plano divino.


A TRANSFORMAÇÃO DO PÚLPITO EM PALANQUE POLÍTICO

O fenômeno de pastores como Deltan Dallagnol e Roberson Pozzobon transformarem o púlpito em palanque político é uma distorção do papel da igreja. Em vez de servir como um lugar de acolhimento, cura e orientação espiritual, o púlpito tem sido usado para promover campanhas políticas, angariar assinaturas e disseminar ideologias que polarizam a sociedade. O uso da fé como ferramenta de manipulação política, justificando práticas de ódio e exclusão, desvirtua a verdadeira missão da igreja, que deveria ser a de pregar o evangelho de Cristo, pautado no amor e na justiça.


O RETORNO AO VERDADEIRO EVANGELHO DE AMOR

As igrejas batistas no Paraná, assim como outras denominações que têm seguido um caminho semelhante, precisam reconsiderar sua mensagem e prática, voltando ao evangelho de Jesus que prega o amor, a paz e a misericórdia. A politização da fé tem causado divisões profundas não só dentro da igreja, mas também na sociedade. Em vez de fomentar o ódio e a intolerância, as igrejas devem ser um espaço de unidade e reconciliação, promovendo o diálogo e o respeito, mesmo em tempos de discordância política. Essa é a verdadeira essência do cristianismo: amor incondicional e justiça, não manipulação e ódio.


BIBLIOGRAFIA
Aqui estão cinco livros que abordam a relação entre religião, política e o uso da fé como ferramenta de poder e manipulação:

"O Cristão e a Política: A Fé em Busca de Coerência" – Paul Freston
Este livro oferece uma análise crítica sobre como os cristãos podem e devem se envolver na política, refletindo sobre os riscos da politização da fé e as implicações disso para a prática cristã.

"Deus na Política? A Influência Evangélica no Palácio do Planalto" – João Brant e Ronaldo de Almeida
Uma investigação sobre como a agenda evangélica influencia o cenário político brasileiro, explorando os bastidores da atuação religiosa na política, especialmente no caso do evangelicalismo.

"O Evangelho e o Poder: A Religião no Jogo Político Brasileiro" – Ricardo Mariano
Este livro examina a crescente influência política de igrejas evangélicas no Brasil, discutindo as motivações e consequências dessa interação entre fé e poder.

"As Igrejas no Brasil: Das Origens aos Dias Atuais" – Rubem Alves
Um panorama histórico da evolução das igrejas cristãs no Brasil e como elas têm se envolvido em questões políticas, com ênfase nas influências de movimentos conservadores no protestantismo.

"A Religião Civil Americana: A Propagação do Evangelho Político" – Robert N. Bellah
Embora focado nos Estados Unidos, este livro é uma análise profunda sobre como a religião pode se tornar uma ferramenta de controle social e político, o que oferece paralelos interessantes para o contexto brasileiro.


Como o antipetismo das igrejas batistas de Curitiba fez a cabeça de Dallagnol. Por Kiko Nogueira




O procurador apresenta no púlpito suas medidas contra a corrupção
Dallagnol apresenta em igreja do Rio suas medidas contra a corrupção

Ninguém duvida que o coordenador da força tarefa da Lava Jato, Deltan Martinazzo Dallagnol, é um homem de convicções. Mais do que isso, é um homem de fé.
Deltan fez uma peregrinação por igrejas evangélicas em busca de apoio às suas 10 medidas de combate à corrupção.
Num culto, respondeu a uma espectadora que queria saber sobre seus planos, de acordo com matéria de julho do Estadão: “Eu descartaria poucas coisas em relação a meu futuro, cogito talvez até virar pastor. Mas nós focamos no presente”.
Dallagnol é membro da Igreja Batista de Bacacheri, bairro de Curitiba, onde costuma ministrar palestras com seu indefectível powerpoint.
Lança mão de imagens fortes para impactar as plateias. O mesmo sujeito que apontou Lula como “comandante máximo” e “grande general” da “propinocracia” gosta de lembrar que “a corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa”, uma “serial killer que se disfarça de buracos de estradas, de falta de medicamentos, de crimes de rua e de pobreza.”
A retórica e as técnicas do show de Dallagnol foram influenciadas pesadamente pelas lideranças religiosas de sua terra. Não só a forma: o moralismo, o maniqueísmo e o antipetismo vieram dali.
“Dentro da minha cosmovisão cristã, eu acredito que existe uma janela de oportunidade que Deus está dando para mudanças”, disse ele no Rio em sua turnê religioso-política.
Repetiu essa sentença numa entrevista ao pastor Paschoal Piragine Júnior, da Primeira Igreja Batista de Curitiba, dono de um programa meia boca de bate papos que ele chama de talk show (assista abaixo).
Piragine é uma referência para esse povo. Ganhou fama em 2010 ao pedir a seus fieis que não votassem em candidatos do PT por causa do posicionamento do partido em relação a temas como aborto, criminalização da homofobia e divórcio.
O mote da pregação era “iniquidade”. Piragine denunciou o Programa Nacional de Direitos Humanos. “Se você olhar, vai ver como a máquina estatal está mobilizada. Se os ministros de Estado que estão ligados a esse governo não trabalharem assim, perdem o seu cargo”, falou. O vídeo da peroração tem, hoje, mais de 3 milhões de visualizações.
Uma das admiradoras mais entusiasmadas de Dallagnol é Marisa Lobo, autodenominada “psicóloga cristã”, campeã de causas como a da cura gay. Marisa faz conferências na mesma igreja do amigo sobre sua nova obsessão, a ideologia de gênero, tema de seu último livro.
 
Depois da apresentação da denúncia contra Lula num hotel curitibano de luxo, postou uma mensagem de solidariedade ao “irmão”: “Dallagnol congrega na mesma igreja que eu e é nosso orgulho. Deus está usando a Lava Jato para limpar o Brasil”.
A Igreja Batista do Bacacheri foi fundada em 1959. O site da empresa informa que L. Roberto Silvado, que serve ali desde 1988, é o atual coordenador geral do colegiado de pastores.
Silvado tem uma atuação mais discreta que fanáticos desmiolados como Marisa, mas deixa claras suas preferências e intenções no Facebook. Milita intensamente pelas célebres medidas de Dallagnol.
“Nossa Igreja participou ativamente na coleta de assinaturas. Ao todo foram mais de 2 milhões em todo Brasil. (…) Nós fazemos parte disso, vamos continuar manifestando apoio até que sejam aprovadas. Artistas e líderes de todo país precisam se manifestar, como o fez a atriz Maria Fernanda Cândido no vídeo abaixo”, diz numa de suas postagens.
Dallagnol, registre-se, não está sozinho. O procurador Roberson Pozzobon palestrou num templo em 2015 durante o Fórum Batista de Ação Social. Foi anunciado como “nosso irmão em Cristo, Procurador da República e colaborador do Juiz Sergio Moro que coordena a Operação Lava Jato”.
Pozzobon é o autor da seguinte frase: “Não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efetivo proprietário, no papel, do apartamento, pois justamente o fato de ele não figurar como proprietário é uma forma de ocultação.”
Há seis anos, André Egg, professor da UNESPAR e da UFPR, escreveu um artigo na revista Amálgama sobre Piragine e os evangélicos do Paraná que ainda soa atual. “Em que lugar neste caminho o protestantismo brasileiro se perdeu?”, perguntava.
“Suspeito que em algum momento durante os anos 1950-60, quando missionários fundamentalistas norte-americanos implantaram diversas instituições para-eclesiásticas no Brasil, organizando acampamentos, fundando editoras, livrarias, conjuntos musicais, trazendo uma fé irracional, trabalhando com crianças e jovens (APEC, Palavra da Vida, MPC, JOCUM, Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo) para formar gerações de abestalhados/alienados que perderam o compromisso com o país, com a fé, com o exame das Escrituras, com a liturgia, com a tradição não-conformista do protestantismo.
Os luteranos e anglicanos parece que restaram como únicos oásis diante do domínio absoluto do fundamentalismo, que tragou todos os grupos oriundos do calvinismo (batistas, presbiterianos, congregacionais) e suas dissidências pentecostais. (…)
O pastor incita os fiéis a não votarem no PT, por ele ser contra a “fé bíblica”. Curiosamente, isso é feito sem apoio em nenhum versículo bíblico (…)
Assembléias batistas viraram instâncias de homologação de pastores show-men que trazem as decisões prontas para o pessoal levantar a mão. Batistas de igrejas como a Primeira Igreja Batista de Curitiba e a Igreja Batista do Bacacheri não se dão nem ao trabalho de conferir a autenticidade dos diplomas de doutorado que seus pastores apresentam como credencial. Preferem ser enganados (…).”

É desse caldo que estão saindo os vingadores que vão salvar o Brasil. Deus nos proteja.


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Sobre o Autor
Diretor-adjunto do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.


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